quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ENEM: RETRATO SEM RETOQUES DA EDUCAÇÃO NACIONAL


 

OS RESULTADOS EM NÍVEL NACIONAL


 

O Ministério da Educação divulgou, no dia 19 de julho, o resultado do Enem 2009 que, nesse ano, envolveu a participação de 2.426.432 candidatos e 25.484 escolas de Ensino Médio Regular, representando 93% das escolas presente no Censo Escolar, que ministram essa etapa da educação básica. A variação mais significativa ocorreu no número de escolas que oferecem apenas a modalidade EJA, apresentando um aumento de 16% em relação ao ano de 2008.

A média de desempenho obtida, segundo dados do Mec, foi 500,0, numa escala de 0 a 1000. A maior média obtida foi 749,7 e a menor, 249,25. Em cada uma das provas, a variação dos pontos obtidos teve a seguinte variação:


 

Ciências da natureza e suas tecnologias: de 263,3 a 903,2;

Ciências humanas e suas tecnologias: de 300,0 a 887,0;

Linguagens, códigos e suas tecnologias: de 224,3 a 835,6:

Matemática e suas tecnologias: de 345,9 a 985,1.


 

Os resultados, tal como aconteceu nos do Ideb 2009, apontam para o abismo que separa o desempenho das escolas privadas e das escolas públicas, excetuando-se, como sempre, as instituições federais, consideradas, há muito, "ilhas de excelência" no universo das escolas públicas nacionais.

Em nível nacional, observa-se que das 20 melhores escolas de ensino médio do País, 12 estão na Região Sudeste, 04 na Região Centro-Oeste e 04 na Região Nordeste. Dessas, apenas duas são públicas: o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa e o Instituto de Aplicação Fernando R. da Silveira da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O Estado do Rio de Janeiro apareceu na lista das 20 melhores 5 vezes, ocupando os 3º, 13º, 14º, 17º e 20º lugares; o Estado de São Paulo, além de ocupar a primeira posição, ocupou também os 4º, 10º e 15º lugares; Minas Gerais ocupou a7ª, 8ª e 16ª posições; o Estado do Piauí, as 2ª e 19ª posições; o Mato Grosso do Sul, a 5ª e 11ª posições; as 6ª, 9ª e 18ª posições ficaram com o Distrito Federal, Bahia e Goiás, respectivamente. Dos estados da Região Sudeste, portanto, apenas o Espírito Santo não figurou entre as 20 melhores posições, aparecendo, no entanto, na 48ª posição, representado pelo Centro Educacional São Camilo, de Cachoeiro de Itapemirim.

Entre os 20 piores resultados, 12 foram obtidos pela Região Nordeste, 03 pela Região Sudeste, 03 pela Região Norte, 01 pela Região Centro-Oeste e 01 pela Região Sul. Todas as escolas são públicas: 19 estaduais e 01 municipal. O Estado do Espírito Santo figura na 11ª posição, com a Escola Estadual Profª. Maria Madalena da Silva, localizada em Ponto Belo.

Uma diferença de mais de 500 pontos separa as escolas de ensino médio com a melhor e a pior colocação no Enem 2009: com 749,7 pontos, o Colégio Vértice Unidade 2 é uma escola privada e está localizado na zona sul da capital paulista. Na outra ponta, está a Escola Estadual Indígena Dom Pedro I, que fica no município de Santo Antônio do Içá (AM), que obteve 249,25 pontos.


 

O desempenho das escolas foi calculado com base na média total obtida por seus alunos nas provas objetivas e na redação. A média nacional, segundo o Inep, foi de 500 pontos. Quase sete mil escolas de todo o país tiraram média abaixo de 500, numa escala que vai de 0 a 1.000. Dessas, nada menos que 97,3% são das redes estaduais. Esse dado é mais preocupante quando consideramos abrangência da atuação da rede pública no ensino médio do país: segundo notícia divulgada no site O Globo Educação, as redes estaduais de ensino médio respondem por 85,9% das matrículas no país e recebem 7,16 milhões de estudantes, do total de 8,33 milhões no país. As escolas privadas têm 973 mil alunos (11,6%).


 

OS RESULTADOS POR REGIÃO

Entre as 50 escolas melhores colocadas no País, três estados da Região Nordeste estão representados: o Estado do Piauí ocupando as 2ª, 12ª, 19ª, 26ª, 33ª e 36ª posições; o Estado da Bahia como a 9ª e 50ª posição e o Estado de Pernambuco ocupando a 40ª posição.

No ranking das escolas situadas na Região Nordeste que ocuparam as primeiras 50 posições, figuram 14 escolas públicas da rede federal de ensino e nenhuma das redes estaduais.

O Estado do Piauí foi o que mais se destacou nos resultados, ocupando, inclusive a 1ª posição, com o Instituto Dom Barreto que obteve 741,54 pontos e ocupou a 2ª posição em nível nacional. Em seguida, aparece o Estado da Bahia com 13 instituições e ocupando a 2ª posição, com o Colégio Helyos, localizado em Feira de Santana, com a pontuação de 730,42.

No ranking das 50 melhores colocadas no País, a Região Norte não figurou, apresentando o pior desempenho no Enem: apenas uma escola aparece entre as 100 melhores colocadas, o Centro Educacional Lato Sensu II, localizada em Manaus, que ocupa o 89º lugar. Entre as escolas situadas na região que ocuparam as primeiras 50 posições, o Estado do Pará destacou-se com a presença de 22 escolas, seguido do Estado de Tocantins, com 9 escolas. Entre as 50 instituições, 05 são da rede federal e as outras são instituições privadas.

O Acre e Roraima foram os Estados que apresentaram o pior desempenho em nível nacional, não tendo nenhuma instituição posicionada entre as primeiras mil colocadas no Brasil: o Acre aparece na 1.322ª posição, com a Centro Educacional Lato Sensu, localizado em Rio Branco, e Roraima, o Estado com a pior colocação, ocupa a 2.057ª posição, com o Centro de Educação Integrada Colmeia, localizado em Boa Vista.

A Região Centro-Oeste tem 12 escolas posicionadas entre as 100 melhores, em nível nacional: os estados do Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal aparecem cada um com 04 escolas. A melhor colocada no Estado do Mato Grosso do Sul ocupa a 5ª posição, o Colégio Alexander Fleming, localizado em Campo Grande; a melhor de Brasília ocupa a 6ª posição, o Colégio Olimpo; em Goiás, o melhor colocado é o ColégioWR, localizado em Goiânia, ocupando a 17ª posição.

O Estado do Mato Grosso não tem escola entre as 100 melhores, ocupando, a sua primeira colocada, a 367ª posição no ranking geral.

Entre as 50 instituições de Brasília com as maiores pontuações, duas escolas são públicas: o Colégio Militar de Brasília, da órbita federal, ocupando a 7ª posição, e o Colégio Militar Dom Pedro II, da órbita estadual, ocupando a 25ª posição.

No Estado de Goiás, figuram entre as 50 melhores posições uma escola federal, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologa de Goiás- Campus Jataí, ocupando os 25º e o 26º lugares, e uma escola do âmbito municipal, o Colégio Municipal Castro Alves, que ocupa a 34ª posição.

No Mato Grosso do Sul, além do Colégio Militar de Campo Grande, da órbita federal, ocupando o 3º lugar entre as melhores 50 escolas, fazem parte da listagem três escolas Estaduais: a Escola Estadual Prof. Severino de Queiroz ocupando a 30º posição, a Escola Estadual Silvio Ferreira ocupando a 41ª e a Escola Estadual Presidente Vargas na 46ª posição.

No Estado do Mato Grosso, além de três escolas federais, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso – Campus de Cuiabá ocupando o 4º e o 7º lugares, a Escola Agrotécnica Federal de Cáceres ocupando o 44º lugar e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Campus São Vicente com o 47º lugar, a Escola Estadual La Salle ocupa a 49ª posição.

A Região Sul aparece com apenas três escolas entre as 100 melhores colocadas no Brasil, uma do Estado do Paraná e duas do Rio Grande do Sul: a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em 22º lugar, a Unidade de Ensino Colégio Sinodal(São Leopoldo) em 32º lugar e o Colégio Politécnico da Universdade Federal de Santa Maria, na 63ª lugar colocação. O Estado de Santa Catarina só aparece na 137ª posição, com a Associação Educacional Luterana Bom Jesus, situada em Joinville.

Entre as 50 melhores colocadas na Região Sul, 05 escolas são públicas federais e nenhuma estadual. Nesse ranking, o Estado do Rio Grande do Sul foi o que teve maior representatividade , ocupando 24 posições; o Estado do Paraná apareceu 15 vezes e Santa Catarina, 11 vezes.

A Região Sudeste é a melhor colocada entre todas as regiões, ocupando 66 das 100 primeiras do Enem: o Estado do Rio de Janeiro é o líder entre as 100 melhores, figurando 28 vezes na listagem; o Estado de São Paulo vem em seguida ocupando 25 posições entre as 100; o Estado de Minas Gerais aparece em 3º lugar aparecendo com 12 das melhores classificadas; o Espírito Santo tem apena uma escola entre as 100 melhores do País, ocupando a 48ª posição.

No ranking das 50 melhores colocadas na Região Sudeste, 04 escolas são federais e uma estadual, o Instituto de Aplicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O Estado de São Paulo foi o mais representado com 23 escolas, seguido do Rio de Janeiro com 14, Minas Gerais com 12 e o Espírito Santo com uma.


 

OS ESTADOS DA REGIÃO SUDESTE

No Estado do Rio de Janeiro, que teve uma de suas escolas, o Colégio São Bento, classificada como a melhor do País nos anos de 2004, 2005, 2007 e 2008, ocupando em 2006 a 2ª posição, e em 2009 a 3ª, o predomínio na listagem das 50 melhores posicionadas é das instituições privadas, com a representatividade de 42 escolas. Sete escolas são federais e apenas uma é estadual: o Colégio de Aplicação da UERJ que aparece em 4º lugar. Na capital, esse predomínio se repete: 41 instituições são privadas, oito federais e uma estadual.

Por outro lado, das 20 escolas com os piores desempenhos no Estado, 19 são estaduais e uma municipal e, se considerarmos as 50 piores na capital, todas são do âmbito estadual.

Ainda na capital, alunos de 449 escolas federais, municipais, estaduais e particulares participaram do exame. Dessas, 96 instituições obtiveram médias abaixo de 500: duas privadas e 94 estaduais. Das 353 escolas com média acima de 500, 252 são particulares; 88 estaduais e 13 federais.

No Estado, são 148 escolas a figurar no grupo das 1000 melhores : 132 privadas, 15 federais e uma estadual. Mais da metade está na capital: 89 colégios.

No Enem 2008, 40% entre as 30 melhores escolas do País eram do Estado do Rio de Janeiro. Em 2009, são 26%.

No Estado de São Paulo, das 50 melhores colocadas,cinco são públicas: as estaduais Escola Técnica Estadual de São Paulo, em 35º lugar, o Colégio Técnico e Industrial da Unesp( Guaratinguetá), em 48º e a Escola Técnica Estadual Presidente Vargas em 49º lugar, e as federais, Instituto de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo, ocupando o 10º lugar e o Campus Cubatão da mesma instituição com o 38º lugar.

Das 20 piores colocadas no ranking estadual, 19 são estaduais e uma municipal.

Entre as mil escolas com melhores desempenhos, estão 320 escolas paulistas e 86 estão na capital. É o estado com maior representatividade, mas 92,5% são escolas privadas.

A primeira escola estadual a aparecer entre as melhores do Enem 2009 no ranking nacional ocupa a 114ª posição: a Escola Técnica de São Paulo, com média 686,18.

Na 2.484ª posição, aparece a primeira escola estadual paulista que não é técnica ou de universidade: o Colégio Professor Orestes Oris de Albuquerque, localizado em Angatuba que atingiu média 603,32.

Ocupando a 3ª posição no País, o Estado de Minas Gerais tem, entre as 12 que estão entre as 100 melhores, a escola pública melhor colocada no Enem 2009, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, ocupando a 7ª posição, e pertencente à rede federal de ensino.
No Enem 2008, a instituição também foi a primeira entre as públicas e a terceira com o melhor desempenho entre todas as escolas do País. A Escola Preparatória de Cadetes do Ar, também da órbita federal, ocupa a 91ª posição e é a 10ª entre as 100 melhores do Estado. Mais cinco escolas federais ocupam posições entre as 100 melhores do Estado: as 14ª, 15ª, 17ª, 18ª e 46ª posições.

Entre as 1000 melhores em nível nacional, o Estado de Minas Gerais é o segundo com mais escolas: 152. Desse total, 144 são privadas e oito são federais. Apenas 20% delas estão na capital,Belo Horizonte. Entre as 20 piores escolas colocadas, 19 são estaduais e uma municipal.

O Estado do Espírito Santo, como já citado, tem apenas uma escola figurando entre as 100 melhores do País.

No ranking estadual, seguindo o Centro Educacional São Camilo,de Cachoeiro de Itapemirim, com 703,67 pontos, vem o Centro Educacional Leonardo da Vinci, com 675,43 pontos e o Instituto Federal do Espírito Santo ( IFES ), com 675,43 pontos, ambas localizadas na capital. A 4ª colocada, também de Cachoeiro de itapemirim, é a Escola de 1º e 2º Graus Guimarães Rosa, com 667,04 pontos.

As unidades do Instituto Federal do Espírito Santo( IFES ) lideraram o ranking das escolas públicas do Estado, com o campus de Vitória em primeiro lugar.

Considerando-se apenas as escolas da rede estadual, a liderança foi da EEEFM Victório Bravim, localizada em Marechal Floriano, com 592,54 pontos, que conquistou, nos quatro exames anteriores, o 2º lugar entre as estaduais. Em seguida vem a EEEFM José Pinto Coelho, localizada no município de Santa Teresa, com 573,90 pontos e EEEFM Filomena Quitiba, de Piúma, com 565,80 pontos. Entre as 10 melhores figuram ainda escolas de Colatina, Nova Venécia, Irupi, Guaçuí, Venda Nova do Imigrante, Piúma e Vargem Alta, representatividade apenas de escolas do interior do Estado. Já entre as 20 melhores, figuram duas da Grande Vitória: a EEEFM Maria José Zouain de Miranda, localizada no município da Serra e a EEEFMArnulpho Mattos , em Vitória.

Das 1000 melhores escolas em nível nacional, 20 são capixabas: 17 privadas e três da rede federal. A primeira colocada em nível estadual ocupa a 3.168ª posição em nível nacional e apresenta uma pontuação 111,13 pontos menor que a melhor classificada em nível estadual.

Por outro lado, entre as 100 piores, são cinco as escolas participantes da listagem; todas estaduais: a EEEFM Profª Maria Magdalenta da Silva, localizada em Ponto Belo, ocupando a 11ª posição; a EEEFM São Luiz, localizada em Santa Maira de Jetibá, ocupando a 21ª posição; a EEEFM Prof. Aleyde Cosme, localizada em Itarana, com a 31ª posição; aEEEFM Irmã Tereza Altoé, localizada em Jaguaré, com 81ª posição e, a EEEFM Dr. Jones dos Santos Neves, de Baixo Guandu com a 85ª posição. Os alunos avaliados em todas elas são da Educação de Jovens e Adultos ( EJA ).

Aproximadamente 45% das escolas do Espírito Santo não alcançaram a média de desempenho – 500 pontos. Mas, se considerararmos apenas a rede estadual de ensino, 60% das escolas não alcançaram a média de desempenho. Por outro lado, no caso das escolas privadas, apenas duas das 117 escolas avaliadas não alcançaram a média: a CAT Bárbara Monteiro Lindemberg, localizada em Cariacica, com 489,35 pontos e ocupando o 19.103ª posição (EMR e EJA) e o Colégio Salesiano de Jardim Camburi, localizado em Vitória e ocupando a 23.277ª posição ( EJA ), com uma pontuação de 442,09 pontos. Importante frisar que o Colégio Salesiano de Jardim Camburi, quando analisado o seu desempenho no Ensino Médio Regular ( EMR ) , obteve 655,64 pontos, a 11ª pontuação do Estado.


 

ANÁLISE DOS RESULTADOS DO ESPÍRITO SANTO

A Nota Técnica emitida pelo Inep quando da divulgação dos resultados do Enem 2009 alerta para o fato de que os resultados apresentados devem ser analisados de forma a considerar alguns fatores, afirmando que:

Cabe ressaltar, no entanto, que a utilização dos resultados do ENEM deve ser considerada com cautela, diante do caráter voluntário do exame, aspecto este que requer duas observações. A primeira refere-se ao fato de que, para algumas escolas, a amostra de seus estudantes que participaram do exame é demasiadamente pequena, o que pode tornar sua nota média pouco representativa do conjunto de estudantes da escola. A segunda observação é que, mesmo para as escolas com alta taxa de participação no ENEM, a amostra dos alunos de cada instituição pode não representar o desempenho médio que a escola obteria caso todos os alunos participassem. Em termos técnicos, pode haver um viés na seleção amostral. Por exemplo, se os alunos do Ensino Médio que pretendem cursar o nível superior forem os mais interessados em realizar o ENEM e estiverem mais bem representados pelos melhores alunos de cada escola, então haverá uma distorção, para cima, da média do ENEM observada por escola (o grifo é nosso).


 

No Estado do Espírito Santo, no entanto, os resultados do Enem podem ser analisados na rede pública estadual, sem se levar em consideração a cautela recomendada na citada nota técnica, porque nele o Enem é obrigatório, condicionando-se a emissão do certificado de conclusão do ensino médio à participação no Exame Nacional do Ensino Médio ( Enem ). Essa obrigatoriedade foi definida em Portaria da Secretaria de Estado da Educação, na Portaria nº. 071-R, publicada no Diário Oficial de 29 de Junho de 2009, apesar da decisão contrária do Conselho Estadual de Educação, conforme relatado no artigo "Enem - obrigatoriedade para os alunos do 3º ano do ensino médio das escolas estaduais do sistema de ensino do Espírito Santo".


 

A citada portaria define, no parágrafo 1º do artigo 3º:


 

Art. 3º. .....................................................................................................

§1º Em 2009, o registro da participação do estudante concluinte do ensino médio no exame é considerado indispensável para a emissão do histórico escolar e expedição do certificado de conclusão do curso ( o grifo é nosso).

Portanto, no que diz respeito pelo menos à rede pública estadual, os resultados do Enem demonstram a realidade do ensino oferecido nas escolas estaduais. Só para iniciar, a primeira escola estadual a aparecer no ranking nacional ocupa a 3.168ª posição.

Algumas "coincidências" ocorreram com relação aos resultados: das cinco escolas estaduais classificadas entre as 100 piores do País, quatro estão incluídas na listagem a que nos referimos no artigo "As chances estão criadas?" publicada neste blog. Nele, relatamos o fato de que foi solicitada ao Conselho Estadual de Educação, no ano de 2009, a aprovação, sem análise das condições de funcionamento, de 131 escolas estaduais que funcionavam,algumas até sem ato de criação. E por que não foram submetidos ao Conselho os processos devidamente instruídos? Porque simplesmente elas não seriam aprovadas, por funcionarem em condições inadequadas. Pesquisamos as edições do Diário Oficial deste ano e parece que elas ainda funcionam sem a aprovação, o que significa "sem as condições necessárias para a oferta de um bom ensino". Mas, mais uma vez, a responsabilidade é atribuída a fatores externos à administração, como divulgou o jornal "A Gazeta" de 19 de julho: "Esses alunos nem sempre têm como objetivo fazer o Enem ou prestar vestibular", disse o secretário estadual de educação Haroldo Corrêa Rocha.

E mais: dessas 131 escolas, três não aparecem na listagem emitida pelo Inep, de 17 não consta a pontuação e, 63, ou seja, 48,09% obtiveram pontuação abaixo da média. A Escola Agenor de Souza Lé que foi notícia do jornal "A Gazeta" de 10 de março deste ano com o título "Escola de Vila Velha sem cadeiras para alunos" e assunto do nosso artigo "As chances estão criadas 2" obteve pontuação 503,81. A Escola Rômulo Castelo, de Cariacica, tema de "As chances estão criadas 3", elaborada com base em reportagem publicada no jornal "A Gazeta" de 12 de março, que noticiava que os estudantes não aguentavam mais estudar em salas improvisadas, sem energia e ventilação e, por isso, decidiram fechar um trecho da BR 101 em protesto, não está na listagem do Inep. A Escola Aflordízio Carvalho da Silva, localizada em Vitória, assunto de "A Gazeta" nas edições de 13 e 27 de março e das nossos postagens "As chances estão criadas 4 e 5" obteve pontuação 460,29.

O jornal "A Gazeta" de 1º de agosto focaliza os municípios de Ponto Belo e Montanha na reportagem intitulada "A distância entre os excluídos e seus direitos". É de Ponto Belo, como já citamos, a Escola Profª Maria Magdalene da Silva que teve o pior desempenho do Estado e está entre as 20 piores do País. A situação da escola não é tratada na reportagem. Apenas é dito que o ensino médio funciona no mesmo prédio da escola de ensino fundamental. E traz: "Ponto Belo: transporte escolar precário":

As dificuldades educacionais das crianças e adolescentes de Ponto Belo não estão necessariamente dentro da sala de aula. Aliás, nem necessariamente estão dentro da escola, mas no transporte que os leva até ela.

E mostra a foto de um dos ônibus, "em péssimas condições",
utilizado para o transporte dos alunos.

No município de Montanha duas escolas funcionam também no mesmo espaço: em uma delas, a Elpídio Campos de Oliveira, a reforma iniciada em 2006, se arrasta até hoje. Enquanto isso, os alunos estudam na EEEFM Dom José Dalvit. E informa a reportagem que leva o título "Notas baixas na educação básica":

Talvez exatamente por isso, a Elpídio tenha figurado nas últimas posições entre todas as escolas de ensino fundamental do Estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica ( Ideb ), divulgado no último dia 5 de julho – de 1ª a 4ª série, tirou nota 3,4, quando a média estadual foi de 5,0 nessa faixa. No geral, o ensino básico em Montanha também ficou estagnado: de 1ª a 4ª série, ficou com nota 3,6, mesma nota tirada na avaliação de 2007, enquanto o Estado conseguiu aumentar sua média.

No Enem, a pontuação da escola foi 427,42, ocupando a 18.458ª posição, atrás das duas outras escolas do município: a EEEFM Dom José Dalvit, com 504,49 pontos e ocupando a 13.249ª posição e a EEEFM Padre Manoel da Nóbrega, com 486,59 pontos e na 15.600ª posição.

A Diretora da EEEFM Dom José Dalvit, Semir Silva Brito, apesar de reconhecer a existência de"melhorias significativas" na educação estadual, chama a atenção para alguns problemas, segundo a reportagem:

O segundo problema observado pela diretora – e, possivelmente, outra causa dos resultados ruins – não é exclusivo de Montanha: a desvalorização salarial que desestimula os bons quadros e a carência de contratações permanentes para aprimorar o corpo docente. "Há um rodízio muito grande de profissionais. No início do ano, o corpo docente não está definido. Há um grande número de designações temporárias ( DT's ). Teria que haver mais concursos, se bem que foram feitos alguns recentemente. E, quando você chega perto de se aposentar, depois de tantos anos de dedicação, o que se ganha é irrisório".

Em todas as unidades da federação, a disparidade entre os resultados das escolas estaduais e privadas foi bastante evidente, haja vista que das 1000 piores pontuações em nível nacional, 973 foram de escolas estaduais: 41 do Espírito Santo.

O jornal "A Gazeta" do dia 21 de julho trouxe a notícia "Enem faz Estado liberar R$500 mil para professores". A quantia será destinada a pagamento de horas extras aos professores que darão reforço aos alunos, preparando-os melhor para o Enem. Medidas paliativas! O objetivo não deve ser "preparar o aluno para o Enem", mas preparar para a vida. E deveria ter sido iniciada no primeiro dia do ano letivo! E a solução dos outros problemas? E o fim das obras da EEEFM Elpídio Campos de Oliveira, de Montanha? E a construção de uma escola de ensino médio em Ponto Belo? E a cosntrução de uma escola que substitua a EEEFM Leandro Escobar, em Guarapari, que não tem biblioteca, nem espaço para educação física, nem portas nos banheiros e nem vagas suficientes para o atendimento à população circunvizinha? E a merenda escolar dos alunos do noturno? E as bibliotecas das 155 escolas que "funcionam em locais adaptados", segundo A Gazeta, de 7 de julho? E as condições de trabalho dos professores? E a melhoria no transporte escolar dos alunos de Ponto Belo? E aquelas 131 escolas estaduais, sem aprovação do Conselho Estadual de Educação, já estão em condições de serem aprovadas?

Otaviano Helene, ex-presidente do Inep e Professor do Instituto de Fisica da Usp, em entrevista ao Terra Magazine, critica exames como o Enem, Ideb e Saeb, dizendo que, com eles se mede problemas que já deviam ter sido solucionados. E continua:

Faz décadas que se está medindo. Faz muito tempo que a gente sabe que esses problemas existem. E tudo o que a gente faz é medi-los? Não tem sentido isso. Nenhum problema vai ser resolvido porque ele foi medido várias vezes. Esse é o grave problema de exames como o Enem.

Indagado por que ficara apenas sete meses na presidência do Inep, respondeu:

Eu saí por várias razões, inclusive por isso. Você tinha todas as informações sobre todos os detalhes da situação da educação no país, região por região, rede por rede (rede estadual, municipal etc). Tinha um mapa total. Mas as políticas educacionais, especialmente de estados e municípios, não passam por aí.

E conclui:

Os estados e municípios não levam em conta a realidade e continuam não levando. Você sabe quais são os problemas no ensino paulista com todos os detalhes possíveis. Sabe onde falta professor e porque falta. Sabe onde as salas são grandes demais, sabe porque os estudantes se evadem, porque eles vão mal, sabe onde faltam instrumentos de gratuidade ativa. Sabe que o salário do professor é, grosso modo, entre metade e dois terços do salário de outros profissionais com nível superior. Sabe de tudo, e nada é corrigido.

E no Estado do Espírito Santo? Quando os diagnósticos propiciados mediante formas de avaliação como o Enem serão levados em consideração, buscando-se a superação da situação detectada? As chances ainda não estão criadas para todo o alunado capixaba. Ainda há muito a ser feito! Os municípios onde se encontram os maiores bolsões de pobreza têm que merecer maior atenção dos governantes, porque já está comprovada a relação entre renda e participação na cultura escrita, um dos itens discutido pelo Instituto Paulo Montenegro ( IPM ), ao apresentar os indicadores de alfabetismo funcional referentes ao ano de 2009, o INAF 2009: enquanto entre as pessoas que ganham mais que cinco salários mínimos o percentual de alfabetizados plenos é de 54%, entre aqueles que recebem menos de um salário mínimo o percentual é de 8%, considerando-se a faixa etária de 15 a 64 anos. De 2 a 5 salários mínimos, o percentual é de 32% e de 1 a 2, de 20%. E, no Estado do Espírito Santo, os dados do IBGE referentes ao ano de 2008 indicam que 8,8% da população era de analfabetos e 20,1%, eram analfabetos funcionais, ocupando o Estado a 10ª posição em nível nacional. Esses dados são compatíveis com os dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea ), no mês de julho deste ano, que apontam que, 27,5% dos capixabas, o equivalente a 950.000 pessoas, em 2008, viviam em estado de pobreza absoluta, e 9,1% da população, o equivalente a 314.000 pessoas enfrentavam a pobreza extrema.

O fosso que separa as escolas privadas das escolas públicas é grande, apesar de termos verificado na análise dos resultados do Ideb 2009 que, no Espírito Santo, houve crescimento dos índices obtidos na rede estadual de ensino, enquanto os referentes às escolas privadas não avançaram e, em alguns casos, como quando se analisa os resultados nas disciplinas avaliadas, houve até regressão. Mas as disparidades não se restringem apenas a escola pública x escola privada: as disparidades estão dentro de um mesmo sistema, com escolas situadas em bairros ou municípios "mais nobres" que oferecem melhor infraestrutura e professores mais capacitados. Ou as disparidades estão no próprio ensino público, como verificado no jornal "A Gazeta" de 24 de julho, em que numa mesma página, a de número 5, temos duas notícias: a primeira, com o título "Alunos de Vitória podem terminar o ano sem livros" , e a outra "Em agosto Laptops para nove escolas estaduais."


 

BIBLIOGRAFIA

A DISTÂNCIA entre os excluídos e seus direito. A Gazeta, Vitória, p. 24, 1 ago. 2010.

ALUNOS de Vitória podem terminar o ano sem livros. A Gazeta, Vitória, p. 5, 24 jul.2010.

DESIDÉRIO, Marina. Enem falha em levar pobre à faculdade, diz ex-chefe do Inep. Terra Magazine, [S.l], 22 jul. 2010. Disponível em: <http://www.terramagazine.terra.com.br/.../0,,OI4578890-EI6578,00-Enem+falha+em+levar+pobre+a+faculdade+diz+exchefe+do+Inep.html >. Acesso em:
27 jul. 2010.

EM AGOSTO laptops para nove escolas estaduais. A Gazeta, Vitória, p. 5, 24 jul. 2010.

ENEM: escola de Cachoeiro fica em 1º lugar no Estado e 48º no país. A Gazeta, Vitória, p. 3, 19 jul. 2010.

ENEM faz Estado liberar mais R$500 mil para professores. A Gazeta, Vitória, p. 3, 21 jul. 2010.

ENEM 2010: as 50 melhores escolas da região norte. Diário do Pará. Belém, 2010. Disponível em: <http://www.diariodopara.com.br/N-100755-
ENEM+2010++AS+50+MELHORES+ESCOLAS+DA+REGIAO+NORTE.html – >. Acesso em: 27 jul. 2010.


 

ESCOLAS do Acre têm péssimo aproveitamento no Enem. A Tribuna, Rio Branco, 2010.

Disponível em: <http://www.jornalatribuna.com.br/Ibope.do?id=7191>. Acesso em: 27 jul. 2010.


 

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA E APLICADA ( Brasil). Presença do Estado no
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